Fui selecionada para participar de uma residência artística oferecida pelo bloco Pena de Pavão de Krishna dentro do projeto Águas Gerais #5. A residência recebeu o nome de Rios urbanos, rios humanos e focou a região do Barreiro. Nas artes visuais, realizamos trabalhos de xilogravura orientados pelo professor Fernando Fonseca. Foi uma experiência muito enriquecedora para mim porque pude aprimorar a técnica e também porque pude refletir sobre questões importantes para minha região. Reproduzo abaixo o texto que escrevi sobre a residência e apresento os três trabalhos que elaborei.
Segue aqui também o vídeo do Sarau que realizamos para mostrar os trabalhos produzidos.
E o link de um vídeo que eu e Cássio gravamos no dia em que fiz a impressão das xilos.
Rios urbanos, rios humanos
- Pena de Pavão de Krishna
Ateliês e processos
formativos do Território Barreiro – 2021
O que há nos rios do
Barreiro?
Essa
pergunta me surgiu das reflexões iniciais sobre o Barreiro por ocasião da
residência artística do Pena de Pavão de Krishna, mais precisamente na aula de
abertura do programa. Nessa aula, para nos conectarmos com as questões que
seriam desenvolvidas, ouvimos a palestra da Profª. Modesta sobre a história do
Barreiro e ouvimos também o Rodrigo, do Instituto Macunaíma, falar sobre as
necessidades atuais da região. Em meio às discussões, o Prof. Rafael, do núcleo
de música, morador de Contagem, perguntou, referindo-se à canção baiana: “O que
é que o Barreiro tem?”.
Essa
pergunta me instigou. Para respondê-la, repeti uma fala da minha avó Altina,
que sempre diz que o “Barreiro é uma roça grande”, para dizer que temos um quê
de interior preservado bem no meio da capital do Estado. Para o bem ou para o
mal, o Barreiro é uma “roça grande”. É um local cheio de tradições e histórias,
que os próprios barreirenses desconhecem. É um local que merece mais atenção
por partes das autoridades municipais em vários aspectos: econômicos,
culturais, administrativos e ambientais.
A
partir dessas reflexões iniciais e das conversas realizadas com o Prof.
Fernando e com o colega Luiz em nossos encontros semanais, procurei nortear
minha pesquisa estética pela pergunta que representa para mim a conjunção de
rios urbanos e rios humanos: O que há nos
rios do Barreiro?
Entre
o que não há e o que deveria haver nos rios humanos/urbanos do Barreiro,
cheguei à palavra “consciência”, que classifiquei em três tipos: consciência
ambiental, consciência histórica e consciência cultural. A consciência pode ser
compreendida como uma qualidade da mente, que abrange a subjetividade,
autoconsciência, senciência e sapiência, que nos capacita a perceber a relação
entre nós e o ambiente.
A
partir desses elementos, elaborei três xilogravuras:
1.
A
primeira relacionada à necessidade de consciência ambiental e de defesa da
preservação dos nossos cursos de água, fundamentais para a vida da cidade. O
que há nos rios do Barreiro? No momento, muito lixo e descaso ambiental.
2.
Na
segunda, busquei refletir sobre a cultura barreirense. O que há nos rios do
Barreiro? Um Cristo que nos observa desde 1956, ainda aguardando que
valorizemos nossas tradições.
3.
A
terceira imagem nasceu do incômodo de não ver bem contada a história dos
ancestrais africanos que viveram na região bem antes dos imigrantes europeus. O
que há nos rios do Barreiro? A necessidade de conhecer a nossa história em
todos os seus aspectos.
Considero
que esta residência artística foi muito importante para minha formação. Foi uma
oportunidade ímpar para pensar aspectos importantes da região onde nasci e que
fazem parte da minha constituição. Espero que esse trabalho possa levar outras
pessoas a refletirem sobre essas questões.
Quero
agradecer ao Pena de Pavão de Krishna pela oportunidade, ao Prof. Fernando
pelas orientações, e deixar um grande abraço a todos os envolvidos.
Cristina Souza